Dia 9 de Março, pelas 21.30h no Auditório Carlos Paredes em Benfica estreia "O Bom Ladrão " do irlandês Conor McPherson. A representação está a cargo do actor Pedro Górgia.
O texto, cheio de ritmo e humor negro, foi premiado com o Stewart Parker Award e elogiado pela critica.
O Bom Ladrão é a história, contada na primeira pessoa, de um pequeno marginal que se vê envolvido num trajecto de fuga desesperada após um serviço, a mando de um mafioso local, que corre dramaticamente mal.
Mais informações em www.obomladrao.com
Em cena de 9 de Março a 17 de Abril
de quarta a Sábado ás 21.30h
Domingos às 19h
Sinopse
O título “O Bom Ladrão” cita o personagem bíblico que na cruz se arrepende e é perdoado por Cristo.
O Bom Ladrão de Conor McPherson é um rufia de Dublin com bom coração, quando não está a espancar meio mundo, por uns trocos, a mando do patrão mafioso. Há tiros. Morrem pessoas. A conclusão de escaramuça é que o nosso rufia acaba fugido do seu próprio patrão e do IRA, atracado à mulher e filha do seu alvo original, cujas vida faz por salvar. Não sendo propriamente um bom tipo, o sua noção de moral, ainda que distorcida, faz dele uma personagem passível de redenção.
A narrativa, terrível, na primeira pessoa, prende e impressiona, criando uma irresistível empatia com este delinquente, capaz de extrema violência e de alguma ingenuidade.
Quem é este bom ladrão? Um bruto inocente, que acaba enredado numa teia que não compreende, mais vítima que perpetrador. Sem dúvida, um homem solitário, sem família ou ligações afectivas estáveis, mas que as sonha, como na passagem:
“Havia uma casa mesmo ao pé da estrada. Eu queria morar lá pra poder encostar, sentar-me à lareira e beber uns copos. Comer o meu jantar e ir prá cama, e na cama, a minha bonita mulher diria que não me ía julgar e eu havia de dormir e dormir e sonhar até à próxima coisa que fizesse, que seria alguma coisa interessante.”
A ex-namorada Helga está sempre a assombrar-lhe os pensamentos mas está muito longe daquele sonho, ou sequer da sua possibilidade.
A mulher e a criança que, por força das circunstâncias, o acompanham na fuga, parecem influenciar essa vontade de uma vida tranquila ou, pelo menos despertam nele alguma sensibilidade e compreensão.
No final, o seu camarada de cela, que apreciava os lares alheios que arrombara, acaba por funcionar para ele como uma espécie de anjo pacificador, sendo afinal o seu mais verdadeiro relacionamento de comunhão, confiança, influência positiva, talvez até de reeducação social.
Mas trata-se aqui de uma história bem contada, sem acção ou diálogo. A peça explora temas como violência, culpa e arrependimento, e essas questões são aqui trabalhadas inteligentemente ao longo da acção e do discurso coloquial do protagonista.
Qual ‘rapsodo’, o narrador vai infectar-nos de emoção e humor, com as suas palavras.
A força teatral primordial, a eloquente narração de feitos heróicos pelos ancestrais ‘rapsodos’, encontra aqui o lado sombra do humano; a crueldade, a estupidez, a bestialidade fazem aqui as honras, num íntimo tom quotidiano, ao invés da exaltação do que é nobre. É certo que é conseguida a empatia com o público contemporâneo, ou não se explicaria o sucesso já granjeado por este texto. Sinal de um tempo em que se cria calo contra a susceptibilidade, desde cedo, e à mesa de jantar, comunicar-se um nó no estômago embrulhado num riso espontâneo; apurar-se a sensibilidade por meio do paradoxo. A história, terrível e violenta, contada com voz suave e agradável. Deste modo tudo parece compreensível e perdoável. O próprio personagem parece já se ter perdoado.
McPherson é um escritor profundamente moral, preocupa-se com a possibilidade de redenção dos seus personagens. Interessa-lhe a humanização do monstro, e deve ser esse o primeiro objectivo do actor que agarra este texto.
A peça em um acto é um bom exemplo do trabalho deste autor. As suas peças requerem um grande trabalho da audiência: o seu perdão! É pedido ao público que oiça uma confissão
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