10 setembro 2010

Cultura: anbb: alva noto and blixa bargeld

“Formações cristalinas de noise. Frases, palavras, sílabas de som puro isoladas até o sentimento normal desaparecer, deixando novas e inesperadas abstracções para absorver. A mais sugestiva e discreta variação de “I wish I was a mole in the ground” desde Bob Dylan.”

Sam Davies (The Wire)

Dizem que a electrónica é apenas matemática, dizem ainda que o digital é previsível e frio, dizem que grande parte da música da editora Raster Noton é demasiado minimalista e repetitiva. Contudo, e ouvindo a música de alva noto - ou seja, Carsten Nicolai, um dos fundadores da Raster Noton, com Olaf Bender e Frank Bretschneider -, há ambição e centelhas de inspiração suficientes para testemunharmos o sucesso de colaborações com o classicismo de Ryuichi Sakamoto, a tensão de câmara dos Ensemble Modern ou o minimalismo cinematográfico de Michael Nyman. Por outras palavras, para música aparentemente tão fechada ao mundo exterior, e com regras julgadas intransponíveis, há algo de mágico na estrutura reticular do universo digital de alva noto quando se anexa a discursos tão díspares. É esta qualidade que nos faz acreditar que o matrimónio da música de alva noto com a voz de Blixa Bargeld não poderia ter outros resul tados: as canções, se assim as podemos categorizar, são inebriantes convulsões da electricidade unidas pelo conforto do ritmo certo que, nos momentos mais arrojados, se espraiam por um amplo campo de paisagens inabitadas e atmosferas pesadas. Blixa sobrevive com charme a todas estas comissões, ou não fosse ele o homem do leme dos Einstürzende Neubauten, um dos mais versáteis e poderosos veículos rock de sempre.

electrónica: Carsten Nicolai
voz, efeitos: Blixa Bargeld

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